Nos dias atuais estamos quase todos politicamente ressentidos. Basta uma coisinha à toa e já nos magoamos e ficamos melindrados. Como sentimento, o ressentimento e suas reações características brotam sem muita razão lógica. Aliás, lógica mesmo nunca tem. Quando nos sentimos ofendidos e começamos a querer responder à ofensa, vamos ficando ressentidos. Reclamamos de alguma coisa que aconteceu no passado e revivemos o fato como se fosse real e atual. Sofremos tudo de novo. O mais terrível do ressentimento é que ele tem o poder de apodrecer a arte de conviver. O Brasil está sendo palco de grupos ressentidos e isso poderá resultar em coisas piores. Vieram-me à memória duas fábulas, que, como sabemos, possuem caráter educativo e fazem uma analogia entre o cotidiano humano com as histórias vivenciadas pelas personagens.
A primeira fábula conta a história de um sapo e um escorpião: Era uma vez um sapo e um escorpião que estavam parados à margem de um rio. "Você me carrega nas costas para eu poder atravessar o rio?", perguntou o escorpião ao sapo. "De jeito nenhum. Você é a mais traiçoeira das criaturas. Se eu te ajudar, você me mata em vez de me agradecer". "Mas se eu te picar com meu veneno, morro também", respondeu o escorpião com uma voz terna e doce. "Me dê uma carona. Prometo ser bom, meu amigo sapo". O sapo concordou. Durante a travessia do rio, porém, o sapo sentiu a picada mortal do escorpião. "Por que você fez isso, escorpião? Agora nós dois morreremos afogados!", disse o sapo. E o escorpião simplesmente respondeu: "Porque esta é a minha natureza, meu amigo sapo. E eu não posso mudá-la." Moral da história: não podes nem poderás decidir sob influência do ressentimento para não agir sem raciocinar como o sapo da fábula.
Em contrapartida, se afundarmos como o sapo, nem tudo estará perdido, como mostra outra fábula: A fábula das velas. "Quatro velas estavam queimando calmamente. O ambiente estava tão silencioso que se podia ouvir o diálogo que travavam. A primeira disse: "Eu sou a Paz! Apesar de minha luz as pessoas não conseguem manter-me, acho que vou apagar". E diminuindo devagarzinho, apagou totalmente. A segunda disse: "Eu me chamo Fé! Infelizmente sou muito supérflua. As pessoas não querem saber de Deus. Não faz sentido continuar queimando". Ao terminar sua fala, um vento levemente bateu sobre ela, e esta se apagou. Baixinho e triste a terceira vela se manifestou: "Eu sou o Amor! Não tenho mais forças para queimar. As pessoas me deixam de lado, só conseguem se enxergar, esquecem-se até daqueles à sua volta que lhes amam". E sem esperar apagou-se. De repente, entrou uma criança e viu as três velas apagadas. "Que é isto? Vocês deviam queimar e ficar acesas até o fim". Dizendo isso, começou a chorar. Então a quarta vela falou: "Não tenhas medo criança, enquanto eu queimar podemos acender as outras velas, eu sou a Esperança!" A criança com os olhos brilhantes pegou a vela que restava e acendeu todas as outras".
Daqui para frente precisaremos de resiliência, capacidade de se recuperar ou se adaptar às mudanças, sem perder a esperança para que possamos, oportunamente, recuperarmos a paz, a fé e a fraternidade.